segunda-feira, 9 de maio de 2011

O Mundo não é Maternal - Martha Medeiros






É bom ter mãe quando se é criança e, também, é bom quando se é adulto.


Quando se é adolescente a gente pensa que viveria melhor sem ela, mas é um erro de cálculo.


Mãe é bom em qualquer idade. Sem ela ficamos órfãos de tudo, já que o mundo lá fora não é nem um pouco maternal conosco. O mundo não se importa se estamos desagasalhados e passando fome. Não liga se virarmos a noite na rua, não dá a mínima se estamos acompanhados por maus elementos. O mundo quer defender o seu, não o nosso.


O mundo quer que a gente fique horas no telefone, na internet, torrando dinheiro.


Quer que a gente case logo e compre um apartamento que vai nos deixar endividados por vinte anos.


O mundo quer que a gente ande na moda, que a gente troque de carro, que a gente tenha boa aparência e estoure o cartão de crédito.


Mãe também quer que a gente tenha boa aparência, mas está mais preocupada com o nosso banho, com os nossos dentes e nossos ouvidos, com a nossa limpeza interna:
não quer que a gente se drogue, que a gente fume, que a gente beba.


O mundo nos olha superficialmente. Não consegue enxergar através.


Não detecta nossa tristeza, nosso queixo que treme, nosso abatimento.


O mundo quer que sejamos lindos, sarados e vitoriosos para enfeitar ele próprio, como se fôssemos objetos de decoração do planeta.


O mundo não tira nossa febre, não penteia nosso cabelo, não oferece um pedaço de bolo feito em casa.


O mundo quer nosso voto, mas não quer atender nossas necessidades.


O mundo, quando não concorda com a gente, nos pune, nos rotula, nos exclui.


O mundo não tem doçura, não tem paciência, não pára para nos ouvir.


O mundo pergunta quantos eletrodomésticos temos em casa e qual é o nosso grau de instrução, mas não sabe nada dos nossos medos de infância, das nossas notas no colégio,
de como foi duro arranjar o primeiro emprego.


Para o mundo, quem menos corre, voa. Quem não se comunica se trumbica.


Quem com ferro fere, com fero será ferido.


O mundo não quer saber de indivíduos, e sim de slogans e estatísticas.


Mãe é de outro mundo. É emocionalmente incorreta: exclusivista, parcial, metida, brigona, insistente, dramática, chega a ser até corruptível se oferecermos em troca alguma atenção.


Sofre no lugar da gente, se preocupa com detalhes e tenta adivinhar todas as nossas vontades, enquanto que o mundo, propriamente dito, exige eficiência máxima, seleciona os mais bem-dotados e cobra caro pelo seu tempo.


Mãe é de graça!

colaboração de Carmen Brugalli Schmitt (redeaquarianabrasil)

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