Eles são submissos. Mas não há sofrimento nesta submissão. A
sabedoria vegetal os conduz a uma forma de seguimento surpreendente. Fidelidade
incondicional que os determina no mundo, mas sem escravizá-los.
A lógica é simples. Não há conflito naquele que está no
lugar certo, fazendo o que deveria. É regra da vida que não passa pela força do
argumento, nem tampouco no aprendizado dos livros. É força natural que conduz o
caule, ordenando e determinando que a rosa realize o giro, toda vez que mudar a
direção do Regente.
Estão mergulhados numa forma de saber milenar, regra
que a criação fez questão de deixar na memória da espécie. Eles não podem
sobreviver sem a força que os ilumina. Por isso, estão entregues aos intermitentes
e místicos movimentos de procura. Eles giram e querem o sol. Eles são
girassóis.
Deles me aproximo. Penso no meu destino de ser humano.
Penso no quanto eu também sou necessitado de voltar-me para uma força regente,
absoluta, determinante. Preciso de Deus. Se para Ele não me volto corro o risco
de me desprender de minha possibilidade de ser feliz. É Nele que meu sentido
está todo contido. Ele resguarda o infinito de tudo o que ainda posso ser.
Descubro maravilhado. Mas no finito que me envolve posso descobrir o desafio de
antecipar no tempo, o que Nele já está realizado.
Então intuo. Deus me dá aos poucos, em partes, dia a
dia, em fragmentos.
Eu Dele me recebo, assim como o girassol se recebe do
sol, porque não pode sobreviver sem sua luz. A flor condensa, ainda que de
forma limitada, porque é criatura, o todo de sua natureza que o sol
potencializa.
O mesmo é comigo. O mesmo é com você. Deus é nosso sol,
e nós não poderíamos chegar a ser quem somos, em essência, se Nele não colocarmos
a direção dos nossos olhos.
Cada vez que o nosso olhar se desvia de sua regência,
incorremos no risco de fazer ser o nosso sol, o que na verdade não passa de luz
artificial.
Substituição desastrosa que chamamos de idolatria. Uma
força humana colocada no lugar de Deus.
A vida é o lugar da Revelação divina. É na força da
história que descobrimos os rastros do Sagrado. Não há nenhum problema em
descobrir nas realidades humanas algumas escadarias que possam nos ajudar a
chegar ao céu. Mas não podemos pensar que a escadaria é o lugar definitivo de
nossa busca. Parar os nossos olhos no humano que nos fala sobre Deus é o mesmo
que distribuir fragmentos de pólvora pelos cômodos de nossa morada. Um risco
que não podemos correr.
Tudo o que é humano é frágil, temporário, limitado. Não
é ele que pode nos salvar. Ele é apenas um condutor. É depois dele que podemos
encontrar o que verdadeiramente importa. Ele, o fundamento de tudo o que nos
faz ser o que somos. Ele, o Criador de toda realidade. Deus trino, onipotente,
fonte de toda luz.
Sejamos como os girassóis...
Uma coisa é certa. Nós estamos todos num mesmo campo.
Há em cada um de nós uma essência que nos orienta para o verdadeiro lugar que
precisamos chegar, mas nem sempre realizamos o movimento da procura pela luz.
Sejamos afeitos a este movimento místico, natural. Não
prenda os seus olhos no oposto de sua felicidade. Não queira o engano dos
artifícios que insistem em distrair a nossa percepção. Não podemos substituir o
essencial pelo acidental. É a nossa realização que está em jogo.
Girassol só pode ser feliz se para o Sol estiver
orientado. É por isso que eles não perdem tempo com as sombras.
Eles já sabem, mas nós precisamos aprender.
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contribuição Cris Kauer
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