quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

SOBRE O BAMBÚ CHINÊS - Cristian Macedo


“O mundo está abalado em seus fundamentos;
reboará o trovão. Sede firmes!”

  Fénelon


Estava almoçando em um restaurante chinês quando descobri algo muito interessante.


O bambu chinês é plantado e, por volta de cinco anos, vai se enraizando no solo, sem ainda chegar à superfície. Depois desse tempo todo, o bambu precisa apenas de um ano para chegar até 25 metros de altura.


Devido a suas raízes firmemente ligadas ao solo, por mais que ventos fortes castiguem o bambu, ele não é arrancado do solo. O enraizamento dá a ele sustentação para sua flexibilidade.


Quando pensamos no bambu, aprendemos com ele. Em muitas áreas ouvimos, com certa freqüência, a necessidade da flexibilidade. O mundo atual exige flexibilidade.


No entanto, poucos se aventuram a conquistar essa qualidade. Quando tentam, as coisas acabam lhes escapando pelos dedos. Por quê?


Acredito que isso se deva à falta de enraizamento, ou seja, falta-lhes sustentação de base.

Professores, administradores, religiosos, etc. quando apostam na flexibilidade e não têm raízes tendem a não alcançar seus objetivos. Surge a bagunça e a insegurança. Talvez por isso ainda, o mais comum seja o surgimento de líderes exageradamente metódicos, que nunca se cansam de inventar regras para controlar a situação.


Muitas vezes o rigor exagerado é sinônimo de mediocridade. Não tendo autoridade, sempre se acaba apelando para uma rigidez intransigente, própria dos autoritários.


A criatividade surge nos meios onde as pessoas conhecem profundamente o que fazem, tanto que conseguem improvisar no amplo território que atuam. Só improvisa quem é sábio. O tolo aposta... arrisca levianamente e só a “sorte” poderia fazer as coisas darem certo.


Quem conhece bem o terreno pode tentar novos caminhos... ou quando se tem os instrumentos necessários para a jornada (bússola, mapa, GPS, mantimentos, etc.).


Voltando ao bambu, vale a pena pensar nesse ensinamento da natureza e utilizá-lo em nossa vida prática.

Se não temos raízes profundas nos valores morais não há como envergar e quebrar.


As raízes são cultivadas com estudo, reflexão, experiência e, obviamente, a ética.


Sem a ética, a flexibilidade pode se tornar leviandade, imoralidade, crime, desvio.


O bambu é flexível, mas continua apontando para o céu.


Quem perde o rumo, se corrompe e apodrece moralmente.


O enraizamento de valores verdadeiros é a base que todos devemos ter. O crescimento, a flexibilidade e a resistência às intempéries são próprios de quem vive no mundo, mergulhado num oceano de relacionamentos.


Família, escola, empresa, templo... nos exigem muito trabalho. Mas nada que seja impossível. Se tivermos os pés no chão as coisas ficarão menos difíceis.


Como disse Fénelon, o mundo está abalado em seus fundamentos, no entanto não significa que devemos também ficar abalados.


Mesmo que estejamos em um período de crises e incertezas, devemos ser firmes em nosso enraizamento de valores morais, para que sejamos flexíveis, ou seja, compassivos, compreensivos e caridosos, pois de pessoas com essas virtudes o mundo precisa de forma urgente.


Firmeza não é rigidez... da mesma forma que flexibilidade não é desequilíbrio.


Quando estamos firmes, não estamos estáticos, mas nos movimentando na vida com bases sólidas de conhecimento e moral.


Estando enraizados firmemente, a flexibilidade, pois tem sustentação, surge naturalmente, fazendo-nos viver no mundo compreendendo melhor as pessoas que estão à nossa volta e abrindo mão de fundamentalismos ou de “verdades” preestabelecidas.


O mundo em transformações traz uma complexa trama de situações. A cada uma delas, as respostas precisam ser criativas e eficazes, logo, uma visão rígida e condicionada pode ferir pessoas, pode ser prejudicial.


Quando temos raízes firmes, podemos enfrentar inúmeras situações-problemas com a mente tranqüila e alerta, tomando as decisões de acordo com os contextos, com as necessidades e com as pessoas envolvidas.

"Conta na China que quanto mais nós tem o bambú, menor é a possibilidade de ele se quebrar durante a tempestade. Transportando a lição para nós, cada nó representa uma lição de vida. Quanto mais lições assimilarmos menor será a chance de nos quebramos”

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